Abriu a porta e recebeu com náusea o ar infestado de solidão. Matou a escuridão com um toque no interruptor.
Chegava sempre exausta das aulas menos pelo esforço intelectual que pela ausência dos seus. O apartamento minúsculo e impessoal não ajudava a melhorar o ânimo.
Despejou na mesa as compras, alimentos em quantidade muito grande para quem vivia só. Começou a preparar meia receita de pizza. Farinha, água, sal, açúcar, azeite e meia saqueta de fermento. Não era mulher de metades.
Pôs a mesa, foi recolher as roupas no varal, enquanto a massa descansava desanimada. Esticou a massa,assou, colocou a cobertura de queijo, rúcula e tomate.
Sentou-se à mesa, engoliu seco e resolveu mudar de lugar. Ligou o computador e sentiu um frio estômago, na tela a mensagem: “Minha família chamando”. Sorriu ao ver os três filhos espremidos em frente à câmera, ofereceu um pedaço da pizza de rúcula. Recusaram com uma careta e responderam de pronto: “Papai fez lasanha à bolonhesa.”.
O marido, até então só visto pela metade, se abaixou e despejou toda saudade numa frase: “Quando esse curso termina?”
Depois das despedidas, nem se animou em lavar a louça. Mergulhou num banho quente e deixou as lágrimas rolarem.
Mais seis meses... só.