Teve dificuldades em dormir. Foi uma noite conturbada. Calor, pensamentos desconexos, lembranças que preferia esquecer. Insetos!
Antes das cinco da manhã resolveu acabar com o sofrimento. De hoje não passava.
Tomou uma ducha bem quente, vestiu a roupa de banho, o vestido leve que mais gostava e calçou uma sandália rasteira.
Penteou os longos cabelos, pegou a bolsa enorme e os óculos escuros.
Ligou o carro e saiu com os vidros abertos deixando que o vento da manhã invadisse as narinas.
De hoje não passaria.
Chegou à margem do imenso rio e desceu a escadinha íngreme bem onde as águas seguiam numa enorme curva.
Descalçou as sandálias e arriscou molhar os pés. Sentiu a força da água.
Subiu os degraus de volta, entrou no carro e pegou a estrada.
Depois de mais de quarenta minutos avistou o mar. Ondas violentas. A luz do sol filtrada pela neblina matinal.
De hoje não passaria.
Tirou o vestido leve e foi caminhando rumo às ondas violentas.
A primeira veio forte e encobriu seu corpo. Mergulhou e nadou vigorosamente. Avançou mar adentro. Sentiu uma energia estranha.
De hoje não passaria.
Depois de longos minutos enfrentando as vagas daquele mar que conhecia tão bem, nadou de volta à praia.
De hoje não passaria.
Deixou pra trás tudo que incomodava sua alma tumultuada.
Sorriu revigorada. Finalmente seu ano novo havia começado.